As polícias civis de Goiás e do Distrito Federal desmontaram,
nesta segunda-feira (30/10), mais um braço da máfia dos concursos. Segundo a
Delegacia de Combate ao Crime Organizado (Deco), pelo menos 100 pessoas compraram
as vagas por meio do esquema. Destas, 10 confessaram o crime.
O próximo alvo da quadrilha
seria o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), cuja primeira prova será
aplicada no próximo domingo (5/11). Mas a ação do grupo criminoso era bem
ampla. “Todas as bancas foram vítimas de tentativa de fraude no Distrito
Federal”, afirmou Adriano Valente, delegado-adjunto da Deco, durante coletiva à
imprensa na manhã desta segunda- feira (30/10).
A segunda fase da operação
Panoptes ocorreu simultaneamente em Brasília e em Goiânia. Entre os presos,
está o ex-funcionário do Cebraspe (antigo Cespe) Ricardo Silva do Nascimento. O
acusado movimentou nada menos que R$ 1 milhão no ano passado, de acordo com a
polícia.
Segundo os investigadores, o
Cespe desconfiou da ação criminosa e o demitiu no começo deste ano. Depois
disso, Nascimento não foi mais flagrado em ações criminosas, pois tinha uma
função específica, de preencher os cartões de respostas e vendê-los. A
instituição ligada à Universidade de Brasília (UnB) também passou informações
para a Deco e ajudou nas investigações.
Os criminosos cobravam 20
vezes o valor do salário que o candidato receberia. O valor inicial a ser pago
variava de R$ 10 mil a R$ 20 mil.
O ex-coordenador da Polícia
Legislativa da CLDF Mário Gomes da Nóbrega foi alvo de condução coercitiva. O
delegado aposentado prestou depoimento ainda nesta manhã. Um outro envolvido é
André Luís dos Santos Pereira, preso na capital goiana.
Ele foi investigado em outra
operação da Polícia Civil, a Patrick. Teria comprado uma vaga em um concurso,
passou a trabalhar com o líder da máfia dos concursos, Helio Ortiz, e, em
seguida, migrou para outra quadrilha, aplicando o golpe de uma falsa moeda
digital, a Kriptacoin. Investiu o que ganhou na venda de vagas na moeda digital
falsa.
Sobre as investigações, o Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão gestor do exame e
vinculado ao Ministério da Educação (MEC), “O Inep não foi notificado e está
buscando acesso ao inquérito para poder se manifestar.” Com relação ao Enem, o
órgão informou que ocorrerá normalmente.
Ação simultânea
Ao todo, no DF, são cumpridos
cinco mandados de prisão preventiva, três de detenção temporária, oito de
condução coercitiva e 15 de busca e apreensão. Segundo o chefe da Delegacia
Estadual de Repressão a Crimes Contra a Administração Pública (Dercap) de
Goiânia, André Augusto Bottesini, Ricardo Silva do Nascimento, que foi preso
preventivamente, fraudou o concurso de delegado da Polícia Civil.
“Ele teve um papel
preponderante, pois subtraiu e preencheu os cartões de respostas”, disse o
investigador ao Metrópoles. A polícia identificou a fraude na primeira fase. Na
segunda, ocorrida em abril deste ano, um grupo foi interceptado e preso acusado
de cometer o mesmo crime.
O concurso para delegado da
Polícia Civil de Goiás está suspenso pela Justiça e pode ser cancelado. Pelo
menos 13 pessoas teriam se beneficiado do esquema nesse caso. Os candidatos
chegaram a pagar R$ 375 mil por uma vaga. Os acusados responderão por
organização criminosa, lavagem de dinheiro, peculato, entre outros delitos.
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