O próximo
dia 21 é tido por alguns como o dia do fim do mundo, por meio da interpretação
de um calendário maia que, teoricamente, previa que esse seria o último dia da
humanidade.
A crença do fim do mundo em uma data determinada,
porém, não é uma novidade e nem uma característica ligada a povos distantes,
como os maias. A expectativa pelo dia que seria o último da história da
humanidade é antiga e faz parte da tradição cultural ocidental.
“A fé cristã acredita no fim do mundo”, resume
Lina Boff, professora de teologia na Pontifícia Universidade Católica do Rio de
Janeiro (PUC-Rio). “No fim dos tempos, Jesus vem”.
Milenarismo
A especialista explica que uma corrente chamada
“milenarista” acreditava que o reinado de Cristo sobre a Terra duraria mil
anos. A chegada do ano 1000 da Era Cristã foi, portanto, aguardado com bastante
ansiedade na Europa medieval.
O escritor austríaco-americano Richard Erdoes,
autor do livro “A.D. 1000: Living on the Brink of Apocalypse” (“1000 d.C.:
vivendo à beira do Apocalipse”, em tradução livre), conta que a expectativa
pelo retorno de Cristo dominou “não só o ano 999, mas todo o século que o precedeu”.
Segundo o livro, lançado em 1988, as pessoas da época imaginavam que o
Armagedom viria na noite de Natal ou à meia-noite, na virada de 999 para o ano
1000.
O Papa Silvestre II celebrou uma missa diferente
na virada do ano, com rituais religiosos especiais. Como o mundo não acabou,
surgiram lendas em torno do pontífice, de que ele teria recorrido à ajuda de
magos árabes – ou até feito um pacto com o diabo.
‘Bug do
milênio’
Mil anos depois, a virada de 1999 para 2000 também
seria recheada de crenças sobre o fim do mundo. Além de previsões apocalípticas
ligadas a grupos religiosos – o pastor americano Edward Dobson chegou a
escrever um livro explicando por que Jesus poderia voltar naquele ano –, uma
questão tecnológica causou grande preocupação na sociedade.
Muitos programas de computador desenvolvidos
durante o século 20, especialmente os mais antigos, abreviavam o ano colocando
apenas os dois últimos algarismos – em uma data, o ano de “1988” seria escrito
apenas como “88”, por exemplo. Assim, quando houvesse a passagem de ano de 1999
para 2000, esses programas leriam o novo ano como se fosse 1900. Esse grande
erro no sistema ganhou o apelido de “Bug do milênio”.
O temor era de que o erro causasse uma grande pane
nos computadores mundo afora e que isso comprometesse desde o funcionamento de
bancos até usinas nucleares e instalações militares – onde residiria o risco de
grandes catástrofes. As Nações Unidas chegaram a criar um grupo específico para
prevenir contra a ameaça do “Bug do milênio”. A chegada do ano 2000 trouxe
poucos e localizados erros de informática, sem consequências globais
significativas.
A grande
decepção
Na primeira metade do século 19, o pastor William
Miller liderou nos Estados Unidos um movimento conhecido como adventismo, uma
corrente cristã que acredita no retorno iminente de Jesus Cristo à Terra.
De acordo com interpretações que fez da Bíblia,
Miller afirmou que Cristo voltaria no ano de 1844. Mais precisamente, o líder
religioso marcou a data do fim do mundo para 22 de outubro daquele ano.
Pastor Harold
Camping
Outro pregador americano voltaria a prever o fim
do mundo mais de um século depois. O radialista evangélico Harold Camping
anunciou que Jesus Cristo retornaria à Terra às 18h do dia 21 de maio de 2011,
e que os crentes seriam levados aos céus. A destruição do planeta começaria ali
e todos os que não acreditassem morreriam.
Um seguidor disse que chegou a gastar US$ 140 mil
em publicidade para a previsão de Camping. Outro cruzou os EUA, percorrendo 4,8
mil quilômetros do estado de Maryland até a Califórnia, onde fica a sede da
rádio de Camping, para presenciar o momento junto do pastor.
Depois que nada aconteceu, Camping afirmou que a
data inicial estava errada, e que Jesus voltaria em 21 de outubro daquele mesmo
ano, o que também não aconteceu. Em 1994, o pastor já havia previsto o
apocalipse.
Vaticano nega
Para o próximo dia 21, as principais correntes
cristãs não acreditam no apocalipse. José Funes, diretor da Specola Vaticana,
observatório astronômico ligado à Igreja Católica, esclareceu que “não vale a
pena discutir a base científica dessas afirmações, obviamente falsas”,
referindo-se às previsões de que o mundo vai acabar em 2012.
A teóloga Lina Boff, da PUC-Rio, explica que a
Igreja Católica já não tem mais essa crença no apocalipse. “Nós não podemos
afirmar que Jesus tenha predito o fim do mundo”, afirma a professora.
“Para mim, o fim do mundo acontece na hora em que
eu morro”, prossegue a especialista. No momento da morte, a pessoa “se funde
com este mundo para entrar no outro mundo”, de acordo com a estudiosa do
catolicismo.
Outras culturas
A crença no fim do mundo não faz parte apenas da
tradição ocidental. Antes do contato com os espanhóis, os astecas realizavam
sacrifícios humanos na crença de que aquilo garantiria que o sol não deixaria
de nascer todos os dias.
Os mesmos astecas acreditavam também em quatro
catástrofes sucessivas, que seriam causadas pela água e pelo fogo. Mitos sobre
o fogo universal existiam também em culturas da Grécia, da Escandinávia e da
Índia. Já o dilúvio aparece em narrativas anteriores inclusive à da Arca de
Noé, presente no Antigo Testamento.
Cometa Halley
Em outras oportunidades, houve previsões de
hecatombes que acabariam com a humanidade. Em 1910, a aproximação do cometa
Halley foi cercada de temor. O prestigiado jornal americano “The New York
Times” chegou a publicar uma nota, citando astrônomos do Observatório Harvard
que estavam preocupados com a possível presença do gás cianogênio na cauda do
cometa.
O gás é tóxico, e a passagem do cometa naquele ano
– o Halley passa perto da Terra a cada 76 anos – foi mais próxima que o de
costume. A soma dos fatores levou algumas pessoas a acreditarem que ele poderia
intoxicar a atmosfera da Terra.
Construção do
LHC
Em 2008, cientistas do Centro Europeu de Pesquisas
Nucleares (Cern, na sigla em francês) concluíram a construção do acelerador de
partículas Grande Colisor de Hádrons (LHC, na sigla em inglês), a maior máquina
já feita pela humanidade. O túnel subterrâneo de 27 km entre a França e a Suíça
é usado para experiências com partículas subatômicas, feitas no vácuo.
Na época, surgiram rumores de que a inauguração da
máquina levaria ao surgimento de uma série de pequenos buracos-negros que
levariam à destruição da Terra. O Cern chegou a publicar uma nota explicando
que, embora o LHC atingisse níveis energia jamais produzidos pelo ser humano,
aquela energia era produzida em vários processos naturais e não representava
nenhuma ameaça.
A morte do Sol
A ciência prevê o fim da vida na Terra de acordo
com a evolução natural do Sol – baseada no que acontece com estrelas desse
tipo. Daqui a quase 5 bilhões de anos, ele se transformará em um "gigante
vermelho" e vai multiplicar seu tamanho. Antes disso, o calor crescente
terá provocado a evaporação dos oceanos e o desaparecimento da atmosfera
terrestre. Depois desse aumento, o astro se resfriará até a extinção.
"Até lá, não existe nenhuma ameaça
astrônomica ou geológica conhecida que poderia destruir a Terra", aponta
David Morrison, cientista da Nasa. A agência espacial norte-americana divulgou
uma nota esclarecendo que o suposto fim do mundo em 21 de dezembro não tem
nenhum embasamento científico.
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