Edmilson Bispo dos
Santos Júnior, o Júnior, 27 anos, sempre foi um exímio pintor de paredes. Mas
ele queria mais. Enquanto ganhava experiência na construção civil como ajudante
de pedreiro, tornou-se hábil em assaltar pontos comerciais de Cachoeira, no Recôncavo
da Bahia. Ainda era pouco.
Depois de três prisões por assalto, resolveu ampliar seus domínios e
fundar a facção criminosa Primeiro Comando do Interior (PCI), inspirada na
facção paulista Primeiro Comando da Capital (PCC). Desde junho de 2010, quando
fugiu da delegacia de Cachoeira, roubando uma pistola .40 do policial
plantonista, Júnior passou a consolidar o grupo criminoso que comanda o tráfico
de drogas no município, além de distribuir para cidades vizinhas.
“Hoje, só vende droga (crack, cocaína e maconha) nessa região quem Júnior
permite. Ele alimenta o tráfico em cidades da região de Cachoeira à custa de
muita violência”, conta o delegado titular de Cachoeira, Laurindo Neto.
Na iniciação no mundo do crime, Júnior roubava usando motos. Depois, resolveu
investir no tráfico. “Ele fez isso para poder ganhar dinheiro. Percebeu
que com o tráfico consegue ser mais forte. Ele traz droga de Feira de Santana
para Cachoeira e depois envia para Muritiba, Humildes, Conceição do
Almeida, São Félix e Conceição da Feira”, destaca o delegado.
Fechado Enquanto a
polícia tenta capturá-lo, a população de Cachoeira propaga que Júnior, que é
filho de Oxóssi, fechou o corpo em três terreiros de candomblé em Cachoeira,
São Félix e Conceição da Feira. Dizem que até o delegado foi alvo de
“trabalhos” do traficante. “Ele matou um boi e ofereceu aos orixás na intenção
do delegado”, contou um morador da Rua da Feira, próxima da delegacia.
O delegado Laurindo Neto, entretanto, prefere não entrar no embate
religioso. “Confio em Deus e ponto. Estamos fazendo um trabalho árduo para
prender Júnior e seus comparsas. Já prendemos Neguinho, que seria o segundo do
escalão da facção”, diz.
Em vários muros de Cachoeira, Júnior mandou pintar - com o verde do seu orixá -
as iniciais PCI acompanhadas de um revólver 38, símbolo da organização
criminosa. Boa parte dos escritos já foi apagada pela prefeitura.
Um dos que resistem está gravado numa parede a 100 metros da delegacia da
cidade, perto da ponte que o traficante usa para esconder entorpecentes e
armas. Até na delegacia, quando foi preso na última vez, ele desenhou nas
paredes o símbolo da facção.
Tática Assim como o
PCC, Júnior costuma aplicar o golpe “Conexão Jamaica”, em que rouba drogas de
rivais para impedir que outros vendam na área dominada por ele.
Fontes da Secretaria da Segurança Pública (SSP) revelaram que, em agosto,
Júnior invadiu a casa do traficante Henrique Falcão de Carvalho, em Serrinha,
roubou cocaína e ainda bateu no rival.
“Ele fez isso porque soube que Henrique ia para Cachoeira vender a cocaína. Foi
lá e tomou tudo”, revelou a fonte. Em 26 de agosto, Henrique foi preso com 20
quilos de maconha em Serrinha.
Poder O sonho de
criar um comando criminoso era antigo, segundo um amigo de infância que pediu
anonimato. “Trabalhamos como pedreiros juntos. Ele sempre teve vocação para
bandido e sempre dizia que queria ser o maior bandido da Bahia”.
O amigo conta que Júnior concluiu o ensino médio. “Era muito apegado à leitura.
Dizia que lia uns livros sobre dinheiro de um tal de Marx (Karl Marx) e que
gostava muito do alemão da guerra (o ditador Adolf Hitler)”, lembrou.
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